Assim como em boa parte do mundo, em apenas alguns meses, o perfil do comércio mudou drasticamente em 2020 com o avanço da pandemia. Esse movimento resultou em uma rápida transição do consumidor para sistemas de compras online, bem como adoção de novas formas de efetuar o pagamento, agilizando assim o surgimento de inovações e tendências no mercado de meios de pagamento.
Algumas delas, como o e-commerce, por exemplo, rapidamente foram adotados pelos brasileiros - somente no primeiro semestre do ano passado, o crescimento do setor foi de 47% no faturamento e de 40% no número de consumidores, conforme dados da Ebit|Nielsen, plataforma de opinião de consumidores do Brasil. Trata-se da maior alta em 20 anos.
Outra tendência importante durante a crise sanitária foi a mudança para opções de pagamento contactless, ou seja, sem contato, principalmente em setores como de alimentos, restaurantes, varejo, combustível e saúde. Um estudo recente mostrou que em maio de 2020, 50% dos consumidores dos Estados Unidos haviam usado métodos de pagamento sem contato pelo menos quatro vezes, enquanto 69% expressaram a opinião de que os pagamentos sem contato eram preferíveis a dinheiro.
No Brasil, os pagamentos por aproximação (NFC) cresceram 330% no primeiro semestre de 2020, conforme relatório da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), com movimentação de R$ 8,3 bilhões só neste período. São aproximadamente 3,8 milhões de transações instantâneas por dia, o que coloca o país em destaque neste segmento em relação aos Estados Unidos e Canadá.
Os desembolsos de B2C estão se tornando digitais
Assim como as mudanças no comportamento do consumidor aceleraram a adoção do comércio digital, também estão impulsionando a demanda por pagamentos digitais. O desembolso digital de fundos permite que as empresas movimentem dinheiro com a mesma flexibilidade, conveniência e experiências positivas criadas pelo comércio digital - enquanto permite interações sem contato e entrega instantânea de fundos.
Isso já ocorre com frequência nos Estados Unidos, por exemplo. De acordo com o Aite Group, as empresas americanas fazem mais de 1,9 bilhões de pagamentos digitais aos consumidores anualmente, entre desembolsos por reclamações, pagamento de recompensas, reembolsos, abatimentos e pagamentos para trabalhadores freelancers.
Apesar disso, os pagamentos business-to-consumer (B2C) ainda têm sido frequentemente feitos com cheques em papel, devido à sua natureza fora do ciclo e à hesitação dos consumidores em fornecer dados confidenciais, entre outros motivos. Mesmo diante de opções de pagamento inovadoras, mais de um terço dos desembolsos de B2C continuam sendo feitos em cheque entre os americanos.
No caso do Brasil, números do Banco Central mostram que a modalidade vem caindo cada vez mais em desuso – o número de documentos trocados, cuja média mensal era de 2,943 bilhões de cheques emitidos, em janeiro de 1998, caiu para menos de 436 milhões, em janeiro de 2019. E isso deve ser acelerado de forma mais acentuada principalmente com o advento do Pix.
Em tempos de pandemia, o pagamento em cheque é visto como muito lento e desnecessariamente arriscado, já que exige a entrada em um banco ou o uso de um caixa eletrônico, atividades consideradas de alto risco. Além disso, a modalidade feita por via digital também melhora a eficiência dos processos de pagamento, oferecendo reconciliação e rastreamento em tempo real, o que pode reduzir o custo operacional.
Obtendo uma vantagem comercial
A COVID-19 colocou pressão em quase todos os tipos de negócios. No mercado dinâmico e incerto de hoje, aproveitar todas as vantagens é crucial. Para se manterem competitivas, as empresas estão recorrendo cada vez mais aos desembolsos digitais. Isso é especialmente importante para empresas na economia informal/freelancer (gig economy), onde os trabalhadores esperam o pagamento imediatamente.
Embora pagamentos mais rápidos façam todo o sentido para os gigs, descobrimos que a velocidade dos desembolsos tem aplicações atraentes para outros tipos de negócios que buscam obter uma vantagem competitiva. Vejamos, por exemplo, o setor de seguros. Os desembolsos digitais são ideais para fazer pagamentos de sinistros, sejam eles para reparos de acidentes, danos de um desastre natural, substituição de propriedade após um roubo ou reembolsos aos segurados, como reembolsos de prêmios relacionados a COVID-19. Os segurados demonstraram uma preferência clara por opções de desembolsos digitais em tempo real, como push-to-card e depósito direto, em vez de esperar a chegada de um cheque pelo correio. Esses tipos de pagamento podem melhorar drasticamente a experiência do cliente e fortalecer o relacionamento com o cliente.
Da mesma forma, os desembolsos de seguros na área de saúde podem ser bastante melhorados usando plataformas digitais. Como os pedidos de reembolso relacionados a COVID-19 estão sendo processados em números crescentes, a necessidade de emitir reembolsos em tempo hábil é vital.
Para muitas empresas, abraçar os desembolsos digitais está sendo feito por necessidade para atender às demandas de clientes e funcionários que pensam na COVID-19. Mas as vantagens desses pagamentos B2C para clientes e empresas é um bom motivo para acreditar que sua popularidade continuará a crescer no futuro. Entender como eles funcionam e como melhor utilizar as plataformas de pagamentos emergentes pode muito bem ser um dos investimentos mais inteligentes que uma empresa pode fazer.