Por Murillo Restier*
Uma modalidade permite sacar de estabelecimentos comerciais cadastrados usando Pix, como lojas, padarias, supermercados, caixas eletrônicos e casas lotéricas. Já a outra envolve uma transação de compra, em que o lojista pode devolver um troco em espécie para consumidores que pagarem um valor maior ao do produto. O Pix Saque e o Pix Troco, respectivamente, foram anunciados pelo Banco Central (BC) desde o fim do ano passado e, aos poucos, estão tomando corpo no varejo brasileiro.
Embora já somem 71,1 mil transações até janeiro deste ano, feitas por 43 mil pessoas - segundo dados do BC -, o número é muito baixo na comparação entre pessoas físicas. O Pix Saque, inclusive, foi o que que ganhou maior adesão, representando 97,7% das transações.
Para se ter uma ideia, em fevereiro, o sistema bateu recorde de mais de 54 milhões de transações em um único dia, o que representa cerca de 2,5 milhões a mais que a maior quantidade do recorde anterior. E os números são cada vez maiores.
Ainda, uma pesquisa encomendada recentemente pela Fiserv mostra que o Pix é o pagamento do futuro. Em um intervalo de dez anos, o sistema será o meio de pagamento mais comum (91%) entre a população. Carteiras digitais (82%) e leitura de QR Code (81%) seguem a lista. Por outro lado, um a cada cinco brasileiros acredita que o dinheiro em espécie deve desaparecer na próxima década. E 60% presumem que o cheque deve sumir – o que mostra a digitalização dos meios de pagamento.
Mas se o Pix é tão popular assim, o que falta para ter Pix Saque e o Pix Troco em todas as esquinas? Primeiro ponto de reflexão é destacar o timing: como as soluções foram lançadas no fim de novembro, período de aumento dos números de vendas com as festas de fim de ano, é possível e provável que os varejistas não tenham tido tempo hábil de aderir fazer integrações tecnológicas e implantações das modalidades em um período já movimentado.
O segundo ponto é provocar os varejistas a pensarem quanto custa tirar o dinheiro das lojas – qual é o valor investido por mês para custear os carros fortes que vão esvaziar os caixas. Será que não vale oferecer uma (ou duas) facilidade(s) a mais para o cliente e ainda ver a experiência da ida ao estabelecimento como uma oportunidade de (a) reduzir o valor com carros forte e (b) usar a ida até o estabelecimento para uma possível venda.
Temos muitos desafios pela frente – como o varejista vai gerenciar a quantidade de células em cada caixa? Como os processos – tecnológicos e humanos - serão revisados para evitar fraudes? Como se dará todo o embrolho de taxas, impostos e burocracias em cada configuração de automação comercial?
Pix Saque e o Pix Troco podem estar caminhando em um ritmo um pouco mais lento que a adesão do Pix – se comprar com as taxas que estamos acompanhando desde novembro de 2020. Mas o que podemos apostar é que a experiência em ter um potencial cliente, fisicamente, no seu estabelecimento é ir além de oferecer uma experiência para ele: é potencial de conversão.
Murillo Restier é diretor de Vendas e Produtos Multi-adquirentes na Fiserv Brasil.
Artigo publicado no Mercado&Consumo.