
Confira a tradução da entrevista que o Murillo Restier, diretor de Produtos Multiadquientes da Fiserv no Brasil concedeu para o Fintech Nexus Latam sobre o potencial do Pix no início de junho:
Houve pouca discussão sobre o sucesso avassalador do Pix no Brasil.
Defendido pelo Banco Central do Brasil no final de 2020, o sistema de pagamento instantâneo de baixo custo alcançou uma adoção incomparável desde o início, com um aumento sustentado de transações e usuários que surpreendem os especialistas.
Em maio de 2022, o sistema Pix tinha cerca de 118 milhões de usuários, 56% da população brasileira. O volume mensal de transações continua batendo recordes nos últimos meses, chegando a R$785 bilhões, ou US$165 bilhões, em maio. São 300 mil reais processados a cada segundo.
Mas não para por aí. Embora o crescimento possa se estabilizar em algum momento, especialistas do setor argumentam que seu sucesso indiscutível também abriu caminho para mais inovações no mercado, facilitando uma mudança mais decisiva em direção à digitalização do Brasil.
“As pessoas adotaram o Pix como se o tivessem usado nos últimos 10 anos”, disse Murillo Restier, especialista em Pix da empresa de tecnologia de pagamentos Fiserv, dos EUA, em entrevista. “Antes do Pix, muitos acreditavam que todo mundo estava tão acostumado com cartões de crédito e débito que havia pouco espaço para mudanças. O Pix provou exatamente o oposto. Ou seja, que produtos disruptivos possam funcionar no mercado brasileiro.”.
Produto em evolução
Por si só, o Pix é um produto em evolução. Espera-se que novas funcionalidades sejam lançadas este ano, o que aumenta o potencial de continuar a revolucionar o setor de pagamentos brasileiro altamente competitivo e cada vez mais digitalizado.
Isso inclui potencialmente oferecer pagamentos internacionais por meio do Pix, fazer divisões de transações ou permitir que os comerciantes se tornem os chamados iniciadores de pagamento. Neste último caso, um cliente poderia confirmar uma transação por meio do seu celular que o comerciante começou. Espera-se que isso incentive ainda mais pagamentos à medida que alguns entraves sejam removidos e todo o processo se torne mais simples para o usuário final.
“Há muito o que construir em cima do Pix”, diz Restier, diretor de Produto Multiadquirentes da Fiserv no Brasil. “Ainda há muitas coisas que podem ser feitas para melhorar a experiência do usuário, como o processo de desbloqueio do smartphone, autenticação e leitura do QR Code. Realmente não sabemos até onde o Pix pode ir e devemos manter a mentalidade de inovação contínua.”.
No entanto, alguns aspectos podem atrasar o plano. Os funcionários do Banco Central do Brasil estão atualmente em greve, o que alguns acreditam que poderia retardar a implantação de novos lançamentos.
Mas, de qualquer forma, a adoção ainda está crescendo e novos recursos estão sendo desenvolvidos. Mais de 70% de todos os pagamentos são feitos de pessoa para pessoa, representando até 40% de todo o volume processado.
A próxima fase do Pix poderá incluir uma participação mais significativa dos pagamentos Business to Business.
No acumulado do ano, um milhão de novas empresas se inscreveram para usar o Pix. Isso soma cerca de 9 milhões de empresas no Brasil que estão usando o sistema de pagamento instantâneo de baixo custo. Embora o comércio B2B represente apenas 3% de todas as transações, seu volume mensal representa cerca de 37%. “Há também uma mudança cultural em que as empresas estão fazendo pagamentos por meio do Pix”, disse Restier.
Pix vai pegar fatia do mercado
O Pix tem sido amplamente utilizado no Brasil para transações menores, enquanto as grandes transferências continuam sendo realizadas por meio de produtos bancários, como as chamadas transferências TED. Eventualmente, os especialistas argumentam que, à medida que a experiência do usuário melhora, é provável que o Pix também pegue essa participação de mercado.
Mas, além de cartões de crédito e transferências bancárias, que continuam crescendo na maioria dos casos, o dinheiro é a vítima mais importante do Pix. Um estudo da Fiserv descobriu que cerca de R$ 32 bilhões em dinheiro foram retirados das ruas desde que foi lançado.
Em uma pesquisa, a maioria dos brasileiros identificou o dinheiro como o meio de pagamento que será mais afetado por essas inovações. TED e DOC, transferências bancárias, também devem ter um preço, com alguns brasileiros argumentando que acabariam por deixar de existir.
Pelo contrário, o Pix é o mecanismo de pagamento que os brasileiros mais esperavam usar em breve. Carteiras digitais e pagamentos por QR Code ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Redes sociais como WhatsApp e Facebook continuam sendo opções distantes para os brasileiros, mas o ecossistema digital está cada vez mais competitivo.
Para as fintechs, isso significa oportunidades mais significativas no mercado. Segundo Henrique Marise, gerente-executivo de Pagamentos do Banco Pan, há um “futuro auspicioso” para o setor, que continua prestando serviços financeiros sofisticados.
“A agenda evolutiva do Banco Central para o Pix trará novos recursos”, disse ele. “Como resultado, o Pix, que muitas vezes pode substituir o TED e os cartões de débito, também poderá competir com os cartões de crédito.”
Para ler a entrevista original, em inglês, acesse aqui.